terça-feira, 16 de julho de 2013

O Homem de Aço | Resenha


Espetáculo visual vem carregado para mostrar quem é o novo Superman


Man of Steel, EUA/Canadá/Inglaterra, 2013. Direção: Zack Snyder. Roteiro: David S. Goyer, baseado em uma história de Goyer e Christopher Nolan e nos personagens de Jerry Siegel e Joe Shuster. Elenco: Henry Cavill, Amy Adams, Michael Shannon, Diane Lane, Russell Crowe, Christopher Meloni, Kevin Costner, Antje Traue, Harry Lennix, Richard Schiff, Ayelet Zurer, Cooper Timberline, Dylan Sprayberry, Laurence Fishburne. Duração: 143 min.



O que pode ser mais tocante do que um alienígena, que tem a formação longe de suas raízes, pais e sociedade, percorrendo o globo atrás de sua verdadeira natureza? Uma busca existencial que supostamente nunca terá fim, porém, tão pertinente quanto à gênese humana e sua ciência. “Eu não quero ser”, afirma o personagem construído de forma talentosa por Henry Cavill quando seus pais apontam o que há de especial nele e o que se espera de seus talentos. Kal-El vive perdido entre dois mundos: a sua inalcançável civilização e o que poderia ter vivido com seus pais biológicos, que agora é apenas um sintoma em sua genética, e sua vivência terrena com os pais adotivos que geraram a sua fé e condição humana.

Essa dicotomia, de homem e sua natureza, não é exclusiva do pensamento do protagonista do filme, tampouco; Kripton é um lugar habitacional mágico e aspirado – onde as pessoas daquele lugar encontraram um equilíbrio entre vida, tecnologia e ambiente natural. Os efeitos especiais utilizados no primeiro ato são complementares a essa filosofia. O grande obstáculo de Kripton está exatamente no que foi criado: o máximo que havia sido alcançado. Passou a ser um lugar em que o estado de buscar passou a ser o estado de ser. Não existiam mais pessoas que poderiam mudar algo que não havia como ser mudado, apenas classes pré-fabricadas e automatizadas, sem a vida como a conhecemos. Sob esta ótica, Zod acreditou que apenas um golpe de estado devolveria uma clareza para Kripton sobre as coisas e um novo direcionamento – algo censurável, claro, mas que deu início a muitas “revoluções”. O general é um robô, não é natural, foi “esculpido” para ser uma espécie de guardião de seu planeta. Shannon esbraveja por seu povo, queima populações para chegar a uma nova raça e só descansará de seu código quando abraçar a morte. Jor-El é exatamente seu oposto. Mais “humano”, ele também acredita que Kripton está chegando ao seu fim, mas ambiciona uma nova era – “nunca o veremos andar, mas nossas esperanças e sonhos vão com você”. O sonho do general explode junto com seu planeta, o de um pai está percorrendo um novo caminho.


Kal-El é uma soma benéfica de duas diferentes raças. Obteve a sorte de cair em uma fazenda e ter pais adotivos que lhe formassem um caráter humilde, assim como o seu pai verdadeiro desejaria. Ele passa a descobrir seus poderes aos poucos, salvando, inclusive, seus próprios agressores do colégio em um desastre. Para ele, como lhe foi ensinado, qualquer vida é digna. “O mundo é muito grande? Faça-o pequeno!”. Os flashbacks de sua infância resgatados pelo montador David Brenner também são suficientemente eficientes para mostrar essa dubiedade nos sentimentos de nosso protagonista e apontar o porquê de estar naquela busca. Kevin Costner, por exemplo, é tão edificante para quem viria a ser o Superman como o próprio Jor-El. Ele não pestaneja em salvar qualquer tipo de vida (aliás, um parêntese curioso para a retomada da saga) e se sacrifica pelo próprio filho – e aqui cabe ressaltar dois diálogos intimistas em que o ator transborda sentimentos: em passar que talvez ele devesse deixar pessoas morrerem e que Clark é o seu filho.

Por outro lado, esse argumento social e humano se perde no instante em que Snyder começa a fazer esforços para cumprir o orçamento milionário que tem em mãos, como denuncia o literalmente explosivo terceiro ato. Dono de cortes tão rápidos que a ação fica quase impossível de ser conferida e usando da mesma escola de Abrams ao conferir flares e brilho que fariam a Enterprise empalidecer a todo o momento na trama, o diretor avança rápido demais na construção de alguns relacionamentos e abusa novamente em tratar Superman como um salvador católico. Kal-El tem trinta e três anos, posiciona-se como se estivesse crucificado assim que ouve que pode salva
r todos os humanos e tenta se passar por um deles. O seu relacionamento com Lois passa a ser plausível apenas por uma questão de confiança e conhecimento prévio da história original – Kal-El encontra na personagem uma força feminina gigantesca, mesmo que ela pareça pequena quando está com ele, não fazendo jus a esse fator. O beijo trocado por ambos nasce tão robotizado e sem significado quanto uma vida nova surgia na Kripton que conhecemos. E, se a fotografia de Amir Mokri só dá lugar ao branco intenso e ofuscante, a trilha sonora de Zimmer é mais uma vez digna de aplausos a balancear cada momento vivido pelo personagem e não deve em nada para a trilha que Williams imortalizou.

Ainda, é notável a insegurança que Snyder possui em trazer uma trama menos explosiva e mais intimista para um filme que conta com um homem imbatível. E é por isso que ressalvo a escolha dele para um retorno à saga do Superman. O charme de O Homem de Aço não está na força de seu personagem, mas em sua dinâmica sentimental: como alguém imbatível pode ser dono de uma solidão eterna? Ele está buscando o seu lugar ao mundo, forçando-se a se adaptar a um sistema que já está pronto – como todos nós fazemos e como as coisas eram arranjadas em Kripton. O coronel do ótimo Christopher Meloni tem a mesma vocação do general de Shannon, ambos apenas pensam em defender os seus povos e suas raízes – sacrificando-se por elas em seus percursos. Não se pode dizer que não é um começo pretensioso e potencialmente bom para o herói, mas certamente não se pode jogar tudo fora apenas para corresponder às expectativas de um público que apenas quer ver sangue. Isso já é comum em nossa própria realidade.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Universidade Monstros | Resenha

Saudosismo marca o retorno ao passado e aos dias de Mike Wazowski e Jimmy Sullivan como universitários


Parece que foi ontem... Lembro-me de ir ao cinema por volta dos 7 anos juntamente com meu tio para ver uma simples animação infantil da Disney. No entanto, após aquela sessão, minha mente ficou marcada por umas das mais brilhantes animações já desenvolvidas, Monstros S.A! Agora, doze anos depois, uma  sequência genial chega as telonas: Universidade Monstros.
A trama mostra as origens da dupla que, em sua fase adulta, é a campeã em sustos da companhia de energia da cidade de Monstrópolis. O pequeno Mike Wazowski (Billy Crystal) é um sonhador e esforçado monstrinho que quer ser um grande assustador. Para isso, ele deve cursar uma das melhores faculdades no quesito sustos: a Universidade Monstros.
Assim como de costume nos filmes da Pixar, Universidade Monstros não é feito só para divertir, mas aprofunda-se em questões sociais e morais. Quando o estudioso Mike topa com popular Jimmy Sullivan (John Goodman), filho de um grande assustador que já chega ao campus com uma certa reputação, fica claro que, para a amizade começar a tomar forma, algo precisa mudar. Por ser um curso extremamente concorrido, é muito difícil ser bem sucedido no programa de sustos. A severa diretora Hardscrabble (Helen Mirren) exige de seus alunos uma mistura de talento nato e conhecimento técnico, algo que nem Mike nem Sullivan têm por completo. Resta recorrer aos Jogos de Susto, competição anual que premia a fraternidade mais assustadora da Universidade Monstros.
Dentre inúmeras fraternidades, nenhuma das quais aceitará os renegados, eles encontram a Oosma Kappa (OK). Formada somente por deslocados e esquisitos que também foram reprovados no Programa de Sustos, a OK precisa de apenas mais dois integrantes para participar dos jogos. Está formado, então, o grupo que tem de tudo para perder a competição.
É possível prever que o filme mostrará apenas vitórias para a adorável OK e seus membros. No entanto, enquanto Mike e Sullivan não se entendem e colaboram um com o outro, explorando suas habilidades e expondo suas fraquezas para que essas sejam repostas por algum colega, nada funciona. E é aí que entra a primeira lição de Universidade Monstros, que institui a importância do trabalho em equipe.
Em um momento no qual o avanço tecnológico parece ser mais importante que roteiro e construção de personagens, é confortante saber que ainda há uma certa preocupação com o enrendo. A Pixar mantém seu selo de qualidade, dá foco e estabelece uma gratificante meta final, que acerta no desenvolvimento da trama e da narrativa. Abordando temas como bullying, superação de obstáculos e o valor dos estudos sem ser cafona, o estúdio faz de Universidade Monstros um filme convidativo a adultos e crianças de todas as idades, que conseguem se indentificar com os personagens e formar paralelos com suas próprias vidas. O maior acerto de Universidade Monstros é provar que existem inúmeros finais felizes ao longo de uma vida.
Um prelúdio a Monstros S.A. não era esperado. Após os últimos momentos do filme de 2001, que deixa pendente um reencontro entre Sulley e Boo, seria óbvio mostrar uma possível amizade entre o monstro azul e a criança. Mas a Pixar foi inteligente demias ao manter íntimo aquele momento único, nos mostrando que voltar ao passado e apreciar mais a história da amizade entre a bola verde e o grandalhão azul expande de forma inteligente o universo que conhecemos dez anos atrás.