quarta-feira, 25 de junho de 2014

"O caos é uma ordem por decifrar"

"O que eu aqui proponho é que investiguemos a ordem que há no caos. O que, no tempo de hoje, que em muitos aspectos nos apresenta como caótico, eu creio que pode ser encontrado" - O trecho foi extraído de uma entrevista do escritor português José Saramago concedida a BBC no ano de 2002.

Escolhi como título desta postagem uma frase de autoria do próprio autor para que se possa refletir em seu real significado.
Semana passada como de costume, navegava tranquilamente pela internet em busca de novidades relacionadas a sétima arte, quando que para minha surpresa, acabei por descobrir o mais recente projeto de Denis Villeneuve - diretor do ótimo 'Os Suspeitos'- onde ele adapta para o cinema 'O Homem Duplicado', romance de Saramago publicado em 2002. Logo, achei interessante a ideia de um diretor canadense produzir um filme baseado em uma obra literária portuguesa, estrelado por um ótimo ator americano, Jake Gyllenhaal.
No entanto, ao perceber que ainda não havia tido o prazer de ler 'O Homem Duplicado' (Editora Companhia das Letras- 2008 /284 páginas) - tratei de procurar e baixar imediatamente a versão digital para dar início a minha voraz leitura antes mesmo de ver o filme.
No livro, o depressivo professor de história Tertuliano Máximo Afonso descobre, certo dia, que é um homem duplicado. Ao assistir um filme recomendado por um colega de profissão, ele se reconhece em outro corpo, idêntico ao dele próprio - um dos atores que aparece no filme é seu sósia. Os desdobramentos dessa história são imprevisíveis. Porém, o romance de José Saramago, nada tem a ver com clonagem ou outras experiências de laboratório. O que ele expõe é a perda da identidade numa sociedade que cultiva cada vez mais a individualidade, principalmente nas grandes metrópoles e, paradoxalmente, estabelece padrões estreitos de conduta e de aparência. Em 'O Homem Duplicado', José Saramago constrói uma ficção apoiada numa questão extremamente inquietante - a perda do eu no mundo globalizado. O livro é bem interessante, gostei do tema e das metáforas utilizadas. Tudo ainda hoje soa muito atual, afinal a tendencia individualista é cada vez mais crescente neste sistema.
Já o filme... - The Enemy (título original) - bem, como de costume, por se tratar uma adaptação vemos vários elementos modificados, inclusive o nome dos personagens, até porque tudo se passa no exato ano de produção: 2013, em St. James Townesde. Porém, a essência foi mantida, mas com alguns acréscimos como, por exemplo, a metáfora das aranhas (fêmeas manipuladoras) que permeia por todo o filme, e que só serão bem compreendidos depois que assistir ao filme com bastante destreza e atenção. Não irei entrar em detalhes sobre os personagens, referências ocultas e muito menos darei explicações sobre as mais variadas interpretações possíveis. Minha dica é, leia o livro!
Terminarei esta postagem com uma das frases contidas na abertura do livro pertencente ao escritor e clérigo anglicano Laurence Sterne e que contextualiza toda a obra em questão: “Acredito sinceramente ter interceptado muitos pensamentos que os céus destinavam a outro homem.”

 Baixe o livro aqui em PDF

Assista ao trailer do filme:




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