sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Boyhood: Da Infância a Juventude / Resenha

Filme que levou 12 anos para ser concluído, conquista pelo simplicidade






Apesar de não ser algo inédito, o que mais impressiona em Boyhood: Da Infância a Juventude é o fato do longa ter levado 12 anos para ser rodado. O diretor Richard Linklater empenhou-se em acompanhar o crescimento do jovem Ellar Coltrane a partir de sua infância até a adolescência, dos 5 aos 18 anos de idade. O agradável filme trata justamente sobre isso, as várias fases da vida focadas em Mason (Ellar Coltrane), mas, ao mesmo tempo, acompanhando sua mãe (Patricia Arquette) divorciada de seu pai (Ethan Hawke) e sua irmã Samantha (Lorelei Linklater – filha do próprio diretor).

Uma dos aspectos mais evidentes do filme é a simplicidade que o mesmo carrega, mesmo tendo passando por um processo cronológico bastante extenso, Linklater se reuniu durante todos os anos por aproximadamente 3 ou 4 dias para gravar algumas cenas do filme, o que rendeu nada menos do que o equivalente a 39 dias de material. Por isso não importa que o resultado final tenha se resumido a quase três horas de filme, são 164 minutos que não se vê passar, ainda mais acompanhado por uma trilha sonora repleta de boas canções que vão de Pink Floyd a Black Keys e que custou quase metade do orçamento final.
As referencias a cultura pop como as febres das sagas Harry Potter e Crepúsculo da época, nos ajudam a nos localizar em que ano a história está acontecendo, já que não há aviso sobre a passagem de tempo.
Tudo corre diante de nossos olhos como se estivéssemos com um álbum de fotografias da família em mãos, onde costumamos parar por alguns momentos para explicar poses e contar histórias. “Tentamos ser o mais próximo possível da realidade” informou o diretor em uma coletiva. Se essa era sua intenção, então ele conseguiu. Tudo é muito natural (em certos momentos parece mais um documentário), incluindo as atuações, nada de exagero ou enrolação e muito menos aquele clima tedioso que nos obriga a olhar para o relógio de 15 em 15 minutos.
As experiências de Mason parecem ser clichês e banais: escola, padrastos, primeiro emprego, festas, namorada, hobbies, formatura e faculdade, mas são justamente estes simples acontecimentos que entregam a verdadeira essência do que realmente é Boyhoodfilme. Afinal não há grandes surpresas, de fato, volto a repetir: este é um filme simples, sobre vida de um garoto normal da infância a juventude.


EUA , 2014 - 163 minutos / Drama / Direção: Richard Linklater / Roteiro: Richard Linklater / Elenco: Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater, Nick Krause, Sam Dillon, Evie Thompson.




sábado, 28 de junho de 2014

Misery (Louca Obsessão) - 1990

Uma das melhores adaptações de Stephen King para as telas tornou-se um dos meus favoritos


A interpretação da até então desconhecida Kathy Bates, rendeu um Oscar® de Melhor Atriz, assim como o Globo de Ouro.

É sempre bom ver e rever clássicos do cinema americano que de alguma forma ficaram gravados na memória de muitos por possuírem aspectos marcantes. Esta semana peguei a onda de ver vários deles, filmes que já eram do meu conhecimento mas que, no entanto, ainda não havia assistido, em especial os pertencentes do gênero thriller/suspense, que constituem meus favoritos. Acabei por descobrir o ótimo longa Misery (Louca Obsessão - em português).
1990 - 107 min. / EUA
O filme dirigido por Rob Reiner (Stand by Me) conta a história de Paul Sheldon (James Caan), um escritor veterano que sofre um acidente de carro causado por uma tempestade de neve em uma região isolada e então é encontrado e resgatado por uma uma ex-enfermeira que se identifica como sua fã número 1: possui todos os seus livros publicados e sabe tudo de cor e salteado, não só sobre suas obras mas também tudo sobre sua vida pessoal em minuciosos detalhes. Annie Wilkes (Kathy Bates) o acolhe em seu aconchegante e aparentemente tranquilo lar. Porém, a medida que recebe os cuidados necessários para se recuperar do péssimo estado em que se encontra, Paul passa a conhecer um lado sinistro e até então inimaginável de Wilkes. Sheldon que carregava consigo o seu mais novo livro resolve permitir que sua ‘generosa’ fã possa lê-lo antes mesmo de ser publicado. Mas, após descobrir que sua personagem favorita irá morrer ao final da história, Annie simplesmente surta e se transforma, colocando em evidencia uma personalidade totalmente obsessiva, sádica e descontroladoramente assustadora.

Impossibilitado de se deslocar normalmente e dependente de uma cadeira de rodas, Paul começa a enfrentar uma luta pela sobrevivência ali mesmo no quarto onde está confinado, tentando escapar das garras de Annie que se recusa a dar qualquer notícias sua a família e conhecidos, ao mesmo tempo o mantendo como refém e obrigando-o a reescrever sua história com um novo desfecho. A medida que os dias passam Paul passa a compreender quem realmente é aquela terrível mulher e quais são os motivos e eventos que configuram seu passado obscuro e assassino.
Baseado em uma das dezenas de obras do mestre Stephen King - um dos autores mais adaptados de todos os tempos -  Misery é tenso e com uma das melhores atuações dos últimos... sei lá, 1000 anos! Graças a Kathy Bates, posteriormente premiada com um merecidíssmo Oscar®. Suspense do começo até o último momento, este filmaço é diversão garantida e faz nos lembrar que todo fã é realmente um verdadeiro babaca.


Direção: Rob Reiner / Roteiro: William Goldman (baseado na obra de Stephen King) / Produção: Rob Reiner e Andrew Scheinmann, Steve Nicolaides e Jeffrey Stott (Co-produtores) / Elenco: James Caan, Kathy Bates, Richard Farnsworth e Lauren Bacall.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

"O caos é uma ordem por decifrar"

"O que eu aqui proponho é que investiguemos a ordem que há no caos. O que, no tempo de hoje, que em muitos aspectos nos apresenta como caótico, eu creio que pode ser encontrado" - O trecho foi extraído de uma entrevista do escritor português José Saramago concedida a BBC no ano de 2002.

Escolhi como título desta postagem uma frase de autoria do próprio autor para que se possa refletir em seu real significado.
Semana passada como de costume, navegava tranquilamente pela internet em busca de novidades relacionadas a sétima arte, quando que para minha surpresa, acabei por descobrir o mais recente projeto de Denis Villeneuve - diretor do ótimo 'Os Suspeitos'- onde ele adapta para o cinema 'O Homem Duplicado', romance de Saramago publicado em 2002. Logo, achei interessante a ideia de um diretor canadense produzir um filme baseado em uma obra literária portuguesa, estrelado por um ótimo ator americano, Jake Gyllenhaal.
No entanto, ao perceber que ainda não havia tido o prazer de ler 'O Homem Duplicado' (Editora Companhia das Letras- 2008 /284 páginas) - tratei de procurar e baixar imediatamente a versão digital para dar início a minha voraz leitura antes mesmo de ver o filme.
No livro, o depressivo professor de história Tertuliano Máximo Afonso descobre, certo dia, que é um homem duplicado. Ao assistir um filme recomendado por um colega de profissão, ele se reconhece em outro corpo, idêntico ao dele próprio - um dos atores que aparece no filme é seu sósia. Os desdobramentos dessa história são imprevisíveis. Porém, o romance de José Saramago, nada tem a ver com clonagem ou outras experiências de laboratório. O que ele expõe é a perda da identidade numa sociedade que cultiva cada vez mais a individualidade, principalmente nas grandes metrópoles e, paradoxalmente, estabelece padrões estreitos de conduta e de aparência. Em 'O Homem Duplicado', José Saramago constrói uma ficção apoiada numa questão extremamente inquietante - a perda do eu no mundo globalizado. O livro é bem interessante, gostei do tema e das metáforas utilizadas. Tudo ainda hoje soa muito atual, afinal a tendencia individualista é cada vez mais crescente neste sistema.
Já o filme... - The Enemy (título original) - bem, como de costume, por se tratar uma adaptação vemos vários elementos modificados, inclusive o nome dos personagens, até porque tudo se passa no exato ano de produção: 2013, em St. James Townesde. Porém, a essência foi mantida, mas com alguns acréscimos como, por exemplo, a metáfora das aranhas (fêmeas manipuladoras) que permeia por todo o filme, e que só serão bem compreendidos depois que assistir ao filme com bastante destreza e atenção. Não irei entrar em detalhes sobre os personagens, referências ocultas e muito menos darei explicações sobre as mais variadas interpretações possíveis. Minha dica é, leia o livro!
Terminarei esta postagem com uma das frases contidas na abertura do livro pertencente ao escritor e clérigo anglicano Laurence Sterne e que contextualiza toda a obra em questão: “Acredito sinceramente ter interceptado muitos pensamentos que os céus destinavam a outro homem.”

 Baixe o livro aqui em PDF

Assista ao trailer do filme:




sexta-feira, 7 de março de 2014

O Homem Venceu a Máquina


Remake acerta em cheio e questiona: 'O que faz de um homem um homem?'



Em 1987, o holandês Paul Verhoeven trazia ao cinemas o que viria a se tornar um dos maiores clássicos do gênero ação/policial não só da década de 80 como também de todos os tempos. Em Robocop, o policial Alex Murphy (Peter Weller) é assassinado e então revivido como um agente da lei meio humano e meio robô pela OCP para servir como uma arma implacável. Devido ao grande sucesso do primeiro filme, duas fraquissímas sequencias dirigidas por Irvin Kershner e  Fred Dekker em 1990 e 1993, respectivamente, foram lançadas sem qualquer intervenção de Verhoeven, deixando algo claro: O policial cibernético era uma criatura única e irreplicável.
Qual seria então a ideia certeira para um novo Robocop? O diretor carioca José Padilha tinha a resposta.  'Simples ' - disse ele, em uma reunião com os executivos -  'Estamos em 2028, e ninguém precisa mais pilotar os drones, os autômatos tomam suas próprias decisões. '

Na cena que abre o longa, vemos justamente esses robôs patrulhando o Teerã revistando homens mulheres e crianças ao mesmo tempo em que Bill O´Reilly (Samuel L. Jackson), um âncora da TV americana, pergunta ao vivo para milhões de americanos:  'Por que só aqui não se pode poupar a vida de policias e de militares dessa forma? Por que a América, afinal, é tão robofóbica? '
E é exatamente esse o eixo em torno do qual a trama se desenvolve: os americanos rejeitam a ideia de que um autômato possa decidir sobre a vida de uma pessoa, e só nos Estados Unidos isso acontece.
A OmniCorp, corporação que produz as máquinas, esta proibida de expandir seus negócios no maior mercado do mundo. Mas, quem sabe a população não mude de ideia se dentro de um autômato houvesse um homem, pensa Raymond Sellars (Michael Keaton) CEO da OmniCorp. Tal homem vem a ser Alex Murphy (Joel Kinnaman), depois de ser gravemente ferido e mutilado em um atentado.

As diferenças do longa com o original são claramente visíveis, comparar o Robocop do Padilha com o clássico que Verhoeven fez é pedir para se decepcionar: são filmes completamente diferentes. A premissa básica - a de Alex Murphy sendo fundido a um corpo cibernético para combater o crime - é a mesma. Mas Padilha bolou uma história em que a automação da polícia precisa de um rosto humano para ganhar a opinião pública.  Lidar com a perda de sua humanidade logo de cara é um dos conflitos mais interessantes do protagonista, que perde o livre arbítrio involuntariamente por conta da influência que a máquina exerce em seu cérebro. Logo, a busca pelo equilíbrio é o que impulsiona o filme de Padilha, que deixa claro que um remake para ser bom não precisa ser uma cópia.


segunda-feira, 3 de março de 2014

Herman Kock nos convida para jantar


Romance holandês de 2009, só chegou ao país ano passado e vai para Hollywood



Intrínseca - 2013 / 256 páginas - Thriller
Jantares em família são na maioria das vezes, ocasiões agradáveis que proporcionam bons momentos de descontração e agradáveis conversas triviais. Paul um ex-professor de História e Serge, uma conhecida figura pública, são dois irmãos que acompanhados por Claire e Babette, suas respectivas esposas, encontram-se em um refinado restaurante holandês para o que parece ser um simples encontro de casais. Na entanto, o que irá caracterizar o jantar não serão bons momentos em família. No decorrer da trama, os diálogos nos revelam que há algo mais a ser discutido durante um quente noite verão. Uma certa tensão cerca o ambiente de um modo que nos faz entender que Michael e seu primo Rick, os filhos adolescentes do casal, fizeram algo terrível, porém, não se sabe exatamente qual será o destino dos garotos. É perceptível ao longo na narrativa em primeira pessoa por Paul, pai de Michael, que tudo até o momento esta encoberto porém, qualquer deslize pode ser fatal. 
Como todo suspense que se preze, O jantar é tenso e amedrontador. A trama tem reviravoltas surpreendentes e os personagens que, apesar de serem poucos, são bem construídos. As cenas e os locais também são limitados, porém se encaixam perfeitamente no transcrever da história. O romance e best-seller (The Dinner - 2009) foi traduzido para 21 idiomas e uma adaptação para o cinema americano a ser dirigido por Cate Blanchett foi anunciado em 2013. 


O autor holandês Herman Cock, nascido 05 de setembro de 1953 é também ator e já escreveu contos e colunas.  Ele atuou por rádio, televisão e cinema e co-criou a série de TV de longa duração Jiskefet (1990-2005). Koch é casado com Amalia Rodriguez, e têm um filho, Pablo (1994).

Você pode comprar o livro (com desconto) aqui. Ou se preferir, leia on-line em pdf.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Capitão Phillips: Um drama real

 O primeiro trabalho do diretor Paul Greengrass desde Zona Verde.



Ok, já faz um tempinho... mas só agora venho trago aqui um breve resumo deste ótimo filme, o suspense biográfico e concorrente ao Oscar: Capitão Phillips. O longa adapta A Captain's Duty, livro escrito pelo Capitão Richard Phillips, que em 2009 teve seu cargueiro, o Maersk Alabama, sequestrado por piratas somalis. Tom Hanks interpreta Phillips, que embarca no cargueiro MV Maersk Alabama no porto de Omã e inicia sua viagem através do Golfo de Áden rumo a Mombaça, no Quênia. Ciente das recentes atividades de piratas na costa da Somália, ele toma medidas para aumentar a segurança do navio até que, durante um exercício de segurança, Phillips detecta duas lanchas se aproximando rapidamente do navio.
Abduwali e três companheiros somalianos (Najee (Faysal Ahmed), Elmi (Mahat M. Ali) e Hufan (Issak Farah Samatar)) tentam invadir o navio a todo custo.  O capitão e sua equipe tentam de tudo para repeli-los, mas os piratas conseguem subir a bordo da embarcação. 

Uma vez no navio, os piratas exigem o dinheiro do cofre e as mercadorias dos contêineres. Phillips, feito refém pelos bandidos, tenta negociar com eles para ganhar tempo até que o resgate venha. A tripulação então propõe uma troca de reféns e cede uma baleeira para que o bando fuja. Porém, a quadrilha consegue sequestrar Phillips e o leva com a baleeira, esperando trocá-lo por um resgate.

A partir daí começa uma tensa operação que mistura suspense e ação, caracterizada pela excelente atuação de Tom Hanks (destaque para a última cena) o que resulta  num produto de altíssimo nível, com boas atuações, construção técnica impecável e uma articulação inteligente entre estética e temática, capaz de dialogar tanto com o grande público quanto com a crítica.